Ao olhar por uma janela vejo um
jovem parado. Olhar vazio, concentrado, quase em outro mundo. Me vem em mente
alguns pensamentos: onde ele realmente está? Algo normal ou patológico? Realmente
uma coisa que não é comum. O mundo parado entre tantos movimentos. Ele, sem
celular, sem esse mundo virtual. Passa os dias na rua, de um lado para o outro,
sem falar, sem conversar com ninguém. Apenas olha, anda, contempla. Me vem um
lapso de curiosidade. O que se passaria por essa cabeça? Como ele vê o mundo?
Nossas relações geralmente são assim. As pessoas na ânsia da fala e do barulho
não escutam, não contemplam. A rua é algo pequeno, pouco mais de duas
encruzilhadas, que ele percorre e sempre na mesma direção. Muitos dizem que é
louco, que não entende nada à sua volta. Tenho dificuldades com o conceito de
loucura e de normalidade. Muitas vezes os que usam essas palavras as usam no
sentido do senso comum, daquilo meramente que escutam e apenas repetem, sem
ruminar o sentido, sem mesmo interiorizar as palavras. Me parece que são
rótulos aparentes que, muitas vezes refletem uma sociedade doente e esquizofrênica
que olha meramente o aparente e desconsidera o que está por trás. Em um
exercício espiritual Jesus de Nazaré percebeu as nuanças da condição humana. Olhou
para além de tudo isso. Cercou-se de homens e mulheres que, humano demasiados
humanos, mesmo com limitações aparentes, pois não eram da classe formadora de
opiniões, ou mesmo das cúpulas econômicas e religiosas, mas entendiam a essência
da vida e percebiam na conduta e nas palavras dele que era alguém que olhava
para cada um e, verdadeiramente, percebia a humanidade e o valor de cada pessoa. Em
simples atos, desde uma visita em casa, a uma passada no trabalho, onde ele
fosse fazia a diferença pois olhava cada um nos olhos e chamava pelo nome. Em uma
sociedade de anônimos, como a nossa hoje, e mais ainda de indigentes sociais é
escandaloso uma mensagem como essa. O grande escândalo é que sua mensagem é
para o tempo presente, é para uma mudança aqui e agora e não algo para o suprassumo
de uma vida pós morte. Mesmo em um tempo de profetas do caos, que pregam a
desesperança e o fim, é preciso perceber que, os agentes da história somos nós.
Cada um de nós. É preciso perceber e ir além daquilo que as aparências de um
mundo caótico e materialista apresenta. Com as sandálias nos pés e com a enxada
nas mãos ir e, a exemplo do semeador, fazer nossa parte. Mesmo sabendo dos
riscos e das perdas que ocorrerão nesse trajeto para a plantação. O menino de
olhos profundos e olhar vazio me inspirou a sair dessa rua e ir para além até
mesmo desse bairro. Afinal, é uma grande cidade essa nossa existência. Shalom!
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