O pensamento é
a maneira pela qual o homem se distingue dos animais na natureza. A priori
seria isso uma grande vantagem nossa em relação aos animais. Contudo, em tempos
de tanta superficialidade, egocentrismos e descartáveis as coisas tomam outros
rumos. Em tempos virtuais as pessoas cada dia perdem mais suas identidades e se
revestem com aquilo que queriam ser. Um a posteriori que só existe no universo
de suas imaginações. Na modernidade líquida de Bauman, as coisas passam entre nossos
dedos e tomam formar inimagináveis. Dos papiros aos e-mails quanta coisa mudou.
Vivemos escravos do tempo e do trabalho. Substituímos pessoas por máquinas e
nos escondemos por trás de visores e monitores. E teclados teclam sem
sentimentos e transmitem apenas aquilo que quem está do outro lado espera como
resposta. Com as instituições que sempre foram referenciais em crise como vamos
sobreviver? Estado, Igreja, Escola, enfim, aqueles que discursavam e se apresentavam
como verdadeiros avatares perderam a força de suas palavras. Hoje a mídia despeja
informações e deformações vinte quatro horas por dia nas mentes das pessoas. Sem
nenhuma neura com as teorias de conspiração e de dominação do mundo, mas tendo
que falar: estão a serviço de quem? Vendem o que? Que avatares apresentam a
sociedade como aqueles à serem seguidos? Em intervalos de anunciadores e banhos
de sangue na hora do almoço, muitas vezes nos apresentam uma desesperança só,
uma verdadeira barbárie. Até me pergunto: se houver mudança o que eles
apresentariam nos telejornais? Até que ponto é real a indignação do apresentador?
O que me assusta é que, boa parte das pessoas aceita e segue sem questionar, já
desistindo e colocando que não há alternativas possíveis e que sempre será
assim. Ora, as partir do momento que perco minhas esperanças desisto de mudar e
consequentemente me acomodo e passo a ver normalidade em tudo. Normalidade essa
quer é fundamental para manter as estruturas de poder opressor que hoje imperam
em nossa sociedade. O trabalho ascético de desmistificar essas estruturas acaba
quando nós (aí me coloco enquanto professor) aceitamos e colaboramos para que
os outros aceitem também. É preciso reinventar os valores éticos e morais de
nosso tempo. Atualizar aquilo que não tem mais fundamento e resinificar as
novas realidades. Em sua essência eles ainda são os mesmos, no entanto os desafios
atuais são outros. A experiência de vida faz a diferença quando queremos um
mundo melhor e uma realidade melhor. Para além de orelhas de livros e jargões
novos e sedutores precisamos ter lucidez e frieza quando falamos hoje na política
brasileira, nas políticas educacionais, em desenvolvimento sustentável, em
sociedade justa e digna. Para além da indústria do marketing, que produz
verdadeiros salvadores da pátria, precisamos superar esses modismos. Cada um de
nós é responsável pela engrenagem social que vivemos. Um Estado forte e
democrático onde caibam todos não começa de cima para baixo, mas, de baixo para
cima. São nas pequenas coisas que sabemos qual é o caráter de alguém. Se for o
caminho vamos reaprender tudo, vamos começar de novo, da estaca zero. Tem jeito
quando nós dermos um jeito, não jeitinho, não arrumadinho, não furando fila, ou
recebendo favores e concessões, mas, tomando consciência que, como está não
pode ficar e o destino está nas mãos de cada um de nós. Coragem sempre!
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