quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Ditos e não ditos.

Parei e comecei a refletir: o que realmente estou fazendo de minha vida? Quem são as pessoas à minha volta? Em quem realmente confiar?
Somos seres que nascemos para viver em comunidade, nascemos para vivermos com outros. No entanto percebo que as relações são muito frágeis, condicionadas a elementos externos. Mesmo ainda encontrando pessoas verdadeiras, mas essas estão em extinção. Cada um com sua própria “verdade” que condiciona a seus interesses pessoais. Como falar em ética nesses dias? Como falar em princípios cristãos? É realmente um exercício muito complicado esse.
Vivemos em um mundo extremamente materialista, onde o TER supera o SER. E o único ser que prevalece é: “Você sabe quem eu sou?”, ou mesmo “você sabe quem é meu padrinho?”, enfim, as relações se resumiram em “troca de favores”, em mera conveniência. Onde as pessoas se tornam pseudo-amigos, para sugar o que podem: material, afetivo, status, ou seja, viver o que aparenta ser e nada mais.
Isso é próprio de uma sociedade de consumo, onde é preciso estar no mercado para ser visto. É preciso bater palmas para quem não merece para ser reconhecido. Costumo dizer que vivemos um vazio existencial que nos faz apegar aquilo que acreditamos como sendo verdadeiramente o real e o exato. E sempre buscamos preenche-lo com algo material e perecível, logo quando o mesmo se deteriora voltamos a perecer, ou mesmo substituímos por outro objeto. Vejam que em nosso tempo nunca tivemos tantos usuários de substâncias alucinógenas, ou seja, uma pseudo-felicidade, um pseudo-prazer. É a tentativa de ser feliz e ter prazer. Nietzsche diria: erguemos altares ao nosso bel prazer, quando esse ídolo não me satisfaz, derrubo o altar e ergo outro e assim por diante, em um exercício de auto-suficiência e soberba.
Chego à conclusão que nada faz sentido, que tudo é mera representação, que somos seres egoístas e que cada um só pensa em si mesmo. “digam o que disserem o mal do século é a solidão e cada um de nós imerso em sua própria arrogância esperando um pouco de atenção”, diria Russo. Isso é o pensamento caótico que querem que adotemos como verdade absoluta e creiamos. Racionalmente paramos aí.
Um dos homens mais sensíveis do seu tempo foi Nietzsche. Foi capaz de necropiciar o ser humano como um todo e profundamente falar de nossa alma como algo previamente exposto e sem coberturas. Escandalizou quando criticou o deus da metafísica e não foi compreendido. Falou de nossa condição de seres destinados a putrefação (leitura minha) que mesmo diante disso, não conseguimos nos desapegar do que nos cerca. Ousou criticar o pensamento dominante e “fazer” uma filosofia única, nos mostramos que podemos fazer o mesmo hoje.
02 de setembro de 2010, 22h41min, estou tomando uma taça de Botticelli (tinto seco), ouvindo Vivaldi e escrevendo esse texto para dizer que é preciso mais que nunca filosofarmos sobre tudo. Principalmente sobre o existir; aí lembro São Francisco de Assis: “Senhor que queres que eu faça?”. É o exercício do Ser e do Vir-a-Ser, da reflexão sobre o que realmente é o Ser humano e suas potencialidades (física quântica). Queria citar também um monge beneditino alemão chamado Anselm Grun, que também tem me ajudado muito a refletir sobre as dimensões da vida. Seu pensamento nos leva a uma viajem em nosso interior e a meditação de nossas potencialidades. Colocando em cheque a visão fatalista e caótica da realidade em que estamos inseridos. E apontando para Jesus Cristo com modelo a ser seguido. Modelo esse que vai na contra-mão dessa “sociedade de consumo”. Que nos dá esperança de uma realidade melhor e feliz.
Simpatizo com as idéias de Márcia Tiburi quando fala em defesa da solidão. Acredito na solidão como espaço de criação. O que Domenico De Masi diria: Ócio criativo. A esse acrescentaria à solidão. E aí diria como Schopenhauer: somo tudo isso ao papel da arte. E aqui me refiro especificamente à música. Agora são 23h26min, continuo com o meu Botticelli e agora ouvindo Tchaikovsky. Isso tudo me motiva a escrever e a ter “delírios filosóficos”. A pensar e repensar tudo. Pena que não tenho uma cúpula de vidro acima de mim para contemplar as estrelas.
Somos cidadãos do mundo, somos arautos do prazer. Somos o pássaro que tem suas duas asas iguais e uníssonas: fé e razão (J. Paulo II) que nos guiam por caminhos inóspitos e misteriosos, que nos levam ao nosso próprio eu em busca de desvelar aquilo que está oculto: nossa própria existência.


Bayeux, 02 de setembro de 2010.

2 comentários:

  1. Gostei do texto!! A verdade é essa mesmo, estamos vivendo a pseudo vida rsrs Os valores morais e éticos não são mais valores, são artificios para conseguirmos algo. O que nos resta é lutar, "mais uma andorinha só não faz verão", ou simplesmente deixamos a vida nos levar.

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  2. Agradeço o comentário. O importante é cada um ter a consciência que seremos capazes de mudar o mundo quando mudarmos interiormente!

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