quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Um pensar por palavras



            Cada vez que lemos entramos em um universo desconhecido. Os livros têm um poder sobrenatural, eles revelam quem somo e o que queremos. São territórios inexploráveis. Meus livros revelam quem sou, meus segredos, minha personalidade, meus anseios e medos. Algumas leituras assustam porque elas acabam revelando quem nosso verdadeiro eu. Quem pode controlar o pensamento? O que são as lembranças? Elas são intransferíveis e incontroláveis, vão e vem sem pedir permissão. Desde que me entendo por gente que me encanto com o ser humano, que ele me fascina. Na capacidade de raciocínio, nas mais diversas situações: capacidade de amar, de se doar, de abraçar uma causa, de ser essa metamorfose ambulante, de passar do amor ao ódio em segundos, enfim, somos e não somos.
            Essa inconstância é ao mesmo tempo assustadora e fascinante. São situações diversas que todos os dias somos colocados à prova e nem sempre nos saímos bem. A convivência é uma arte, e principalmente a com relação aos contrários. Agora me vem em mente, não o casamento, mas os ambientes de trabalho, onde passamos boa parte de nossa existência, onde vivemos diversos dramas existenciais, morais, éticos, enfim, luta dos contrários mesmo. Convenço-me mais a cada dia, e creio que isso é por empiria, que o paradigma sartriano ainda vai demorar ser falseado, o inferno são os outros. Claro, isso pode ser uma excentricidade minha, pode até ser um devaneio de sábado à noite, quem garante que não é? Contudo acredito que precisamos pensar sobre essas coisas, no sentido que nossa existência não pode ser fechada em si mesma. Creio que somos bem mais, que estamos para bem mais que simplesmente só isso: infernizar a vida dos outros.
            Não quero escrever apologias a nada, nem a futebol, nem a religião, nem ao sagrado, muito menos ao profano, deixo isso para os especialistas. Mas quero aqui partilhar “delírios” da condição humana, momentos que são necessários erguer o pensamento para além de nossa limitada condição de meros expectadores da nossa história pessoal.  Ir além das sombras, daquilo que não conseguimos expor na luz e que nos perseguem em todos os lugares. Chamo isso de “catequese racional”, não no sentido de dar respostas prontas, ou meramente repetitivas, mas, uma tentativa de introspecção, de voltar a si mesmo para buscar repostas e mais ainda questões para serem propostas a nós mesmos.
            “A imagem que tenho é de um grande corredor, muitos quartos; vários. E esse corredor é extenso, cada porta guarda algo que não pode ser revelado, caminho em direção do final do corredor, e ao olhar percebo que cada porta tem algo escrito: infância, adolescência, família, e assim caminho, o que me interessa de verdade não são essas portas e sim a que está por ultimo: meus medos. Aquilo que guardei escondido no ultimo quarto, lugar que há tempos não visitava porta que fica em frente da porta dos desejos secretos, do meu verdadeiro eu, ambas as portas estão nas sombras do corredor.”
            O que temos aqui? Como interpretar toda essa fala? O que tem de real e que tem de ficção? Onde começa e onde termina a realidade?
            “Pense interiormente que cada dia é o último, à hora inesperada virá como uma grata surpresa; quanto a mim se quiser dar boas risadas vai me encontrar num belo estado, gordo e satisfeito, um verdadeiro porco no rebanho de Épicuros” (Horácio)
            Que poder tem as palavras, por elas podemos abençoar salvar vidas, inflamar egos, perdoar pecados, flertar, magoar, demitir, caluniar, enfim, elas materializam sentimentos, externam o que está no coração, é a nossa consciência, aquilo que pensamos materializada em uma linguagem simbólica e escrita. Algo sobrenatural e bem humano.

           


           

Nenhum comentário:

Postar um comentário